Entenda o tratamento
Como o Neurofeedback permite promover a modificação da atividade neurológica comprometida, consequentemente viabilizando o tratamento dos diferentes quadros de desordens?
A atividade cerebral é, toda ela, baseada em circuitos neurológicos que se organizam dinamicamente na forma de grandes redes cerebrais, cujo funcionamento saudável depende de um delicado equilíbrio.
Quando este equilíbrio é comprometido, o que pode se dar por predisposição genética, traumas mecânicos, como uma pancada na cabeça, e mesmo traumas emocionais, por exemplo, o funcionamento destas grandes redes sofre desregulações e descompensações que, a depender da rede, ou do conjunto de redes afetadas, se expressam clinicamente na forma dos diferentes sintomas que caracterizam cada uma das desordens mentais, como depressão, ansiedade, TDAH, TOC, dislexia, entre outras. Vale também mencionar que a intensidade dos sintomas é diretamente relacionada ao grau das descompensações observadas e nada mais são que a expressão clínica de uma resposta compensatória do cérebro a estas dificuldades funcionais que, então, enfrenta.
O problema é que, uma vez instaladas, tais descompensações tendem, com o tempo, a gradualmente se consolidar, cada vez mais, na atividade da circuitaria afetada, o que vai então, gradualmente também, tornando o cérebro refém de seu próprio funcionamento comprometido.
E tudo isto se deve ao mecanismo fundamental da habituação, no cérebro, uma estratégia evolutiva que, quando tudo vai bem no processo de formação e desenvolvimento cerebral, garante que esta formação se perpetue, e que o indivíduo cresça mentalmente saudável, rumo à vida adulta.
No entanto, se há desvios neste trajeto maturacional, a atuação deste mecanismo acaba por consolidar, da mesma forma, a configuração em redes descompensada, levando ao estabelecimento de um funcionamento patológico.
Para conseguir promover a necessária reconfiguração da atividade da circuitaria neurológica comprometida, de forma não invasiva e não medicamentosa, viabilizando a instalação de um funcionamento neurotípico, de saúde, no cérebro – o que se entende por “tratamento”, em neuroterapia – o Neurofeedback faz uso do mecanismo fundamental de aprendizagem baseado, ao mesmo tempo, em:
a)
- o sinal de feedback é fornecido apenas e tão somente quando os conglomerados neurais em treino produzem a atividade almejada, isto é, quando esta atividade, ou está no intervalo de neurotipicidade considerado ou, ao menos, vai em direção do mesmo;
- o sinal de feedback é fornecido em tempo real, o que significa que ocorre em uma janela temporal da ordem dos centésimos de segundo. Assim, para que a aprendizagem aconteça, esta sinalização deve ocorrer no exato instante em que a atividade almejada, conforme supra descrita, é produzida;
e…
b)
descargas de dopamina marcando quimicamente os “acertos”, o que resulta em fortalecimento destas conexões e aumento da probabilidade de ocorrência futura desta atividade.
Assim, o que faz do Neurofeedback algo absolutamente revolucionário é sua capacidade de adentrar a dimensão temporal em que o cérebro opera, na escala dos centésimos de segundo e, consequentemente, estabelecer as condições para que seja fornecida à circuitaria em treino, informação de sua própria atividade, na forma de sinalização orientadora, em tempo real, conforme descrito acima, o que viabiliza ao cérebro estabelecer a associação entre a produção do sinal e a da atividade almejada, resultando nas descargas de dopamina que, desta forma, marcam quimicamente estes eventos quando ativamente produzidos.
Em suma, fornecemos ao cérebro as condições para que possa aprender, ele mesmo, sobre sua própria atividade e, com base na parametrização estipulada – que orienta a apresentação do sinal de feedback apenas e tão somente quando a atividade almejada é produzida, isto é, quando há “acerto” – modificá-la!
Assim, do ponto de vista da aprendizagem instrumental, base do condicionamento operante, para que a aprendizagem possa efetivamente ocorrer, duas condições são necessárias, devendo ser atendidas simultaneamente:
a)
a contiguidade da sinalização – no que diz respeito à dimensão temporal, a sinalização às áreas e estruturas neurológicas em treino – “feedbacks” sonoros e visuais – deve ocorrer em tempo real, isto é, literalmente, a uma taxa máxima de centésimos de segundo, o que garante sua adequada discriminação pelos sistemas neurológicos de recompensa, no cérebro.
e…
b)
especificidade do sinal de feedback – a sinalização somente acontece quando a atividade neurológica na área-alvo que buscamos treinar se aproxima ou, no mínimo, vai na direção daquela almejada – mesmo que por frações de segundos, apenas – com isso respeitando a “o intervalo de dispersão estatística” em relação à média normativa para a idade e sexo do paciente, estabelecido para o treino.
Isto significa que o sinal de feedback está matematicamente expresso na forma de médias populacionais normativas para a idade e sexo do paciente, e direcionados sobre sua própria atividade neurológica em curso, de modo a constantemente buscar levar esta atividade na direção daquela que cérebros saudáveis produzem.
E – é sempre bom lembrar – tudo com base nos achados da avaliação neurofuncional inicialmente realizada, que determina onde, precisamente, devemos trabalhar no cérebro de cada paciente.
É assim, então, que delimitamos de forma clara, para o cérebro, o que esperamos dele. A sinalização torna-se inequívoca na medida em que é dada só e tão somente quando estas condições são atendidas.
Interessante notar que é neste ponto, então, que o sinal deixa de ser estocástico, aleatório, para o cérebro, e passa a ser reconhecido como portador efetivo de informação. E uma informação extremamente específica, ligada a um tipo de atividade neurológica também muito bem determinada que, agora, o próprio cérebro aprendeu a identificar como relacionada à sinalização e, então, busca produzir.
Portanto, uma vez que o sinal é reconhecido como sinalizador da produção de um tipo específico de atividade pelo cérebro, ou seja, de que está condicionado à produção de um tipo de atividade neurológica bem determinada, este sinal torna-se, tecnicamente, um “feedback” e passa, então, a codificar sua produção (feedback-on) ou não (feedback-off) pelo cérebro.
O condicionamento operante, base do Neurofeedback, faz uso de sinalização orientadora (feedback) e marcação da resposta neurológica a esta sinalização por neuromoduladores, como a dopamina, para viabilizar que a modificação das sinapses nas áreas cerebrais em treino possa ocorrer.
(Retirado de Ed Pigot, baseado em Kandel, 2006; Nargeot, Baxter, & Byrne, 1999; Nargeot, Baxter, Patterson, & Byrne, 1999).
E é assim, finalmente, que estas sinalizações em tempo real criam as condições para que este órgão fantástico que é o cérebro esteja capacitado a interagir com seu próprio funcionamento em curso, literalmente monitorando e avaliando seus “acertos” e “erros” na atividade sendo produzida na circuitaria-alvo que buscamos modificar e à qual a sinalização de feedback está atrelada.
Mais importante ainda: tudo regado ao molho da dopamina, a recompensa química dos neurônios, que marca os acertos neurais quando estes acontecem, conforme o sinal de feedback vai informando, momento a momento, ao cérebro, o que está fazendo.
O bacana é que não somos nós, com nosso conhecimento limitado sobre o cérebro e sua fisiologia – ainda que seja, indiscutivelmente, o mais avançado na história humana – que vamos dizer, ao cérebro, o que fazer.
Pelo contrário! Aliás, esta é a beleza do Neurofeedback por Z-scores!
Apenas mostramos ao cérebro o que cérebros considerados normais e saudáveis produzem nestas áreas e redes neurológicas em treino, fornecendo parâmetros normativos de atividade estatisticamente validados para a idade e sexo do paciente, para cada um destes conglomerados neurológicos, para que o cérebro em treino se utilize e, assim, balize sua própria aprendizagem!
O tratamento por Neurofeedback é não invasivo e não medicamentoso e se aplica a uma vasta gama de distúrbios e comprometimentos neurológicos e psicológicos, tais como:
- Depressão, ansiedade/pânico e insônia
- Dislexia, déficit de atenção com ou sem hiperatividade (ADD/ADHD) e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
- Enxaquecas, dor crônica e fibromialgia
- Pacientes neurológicos – AVC’s , quadros isquêmicos e TCE (Traumatismo Cranio-Encefalico)
- Autismo
- Depressão, ansiedade/pânico e insônia
- Dislexia, déficit de atenção com ou sem hiperatividade (ADD/ADHD) e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
- Autismo
- Enxaquecas, dor crônica e fibromialgia
- Pacientes neurológicos – AVC’s , quadros isquêmicos e TCE (Traumatismo Cranio-Encefalico)